sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O CHOQUE PARADIGMÁTICO NAS UNIVERSIDADES!

Numa empresa, devidamente apetrechada de quadros técnicos, e com um bom clima de relações de trabalho, tende a gerar-se no seu quotidiano, um laboratório do conhecimento. As empresas, dotadas de boa estabilidade laboral, e que sabem incentivar os seus quadros técnicos produzem conhecimento, o qual se transforma em vantagens competitivas da empresa face às outras empresas concorrentes, e são vantagens competitivas intangíveis, derivadas da especificidade do conhecimento "laboratorial" dessas empresas.

Nesse laboratório do conhecimento / inovação, no qual se transformam as empresas com capacidade de gestão e estratégica (e de uma forma geral essas empresas possuem uma boa contabilidade de gestão, que lhes permite medir a rendibilidade real da sua economia e do conhecimento derivado do seu funcionamento) não se verifica nenhum choque paradigmático, já que o novo conhecimento é permanentemente buscado e incentivado e faz parte do seu quotidiano.

Já nas Universidades, há uma preocupação essencial de classificar os conhecimentos obtidos (experimentação, leis, teorias), mais do que produzir novos conhecimentos, derivados do próprio funcionamento da universidade.
Por isso nas Universidades ensinam-se "teorias", comprovadamente experimentadas e adquiridas como válidas, as quais tendem, na ausência de um clima laboratorial do conhecimento quotidiano, a "cristalizarem-se".

A tendência para o ensino "teórico" universitário, redunda por essa via para a formação de várias "capelinhas" ou feudos, cada uma das quais defendem um certo conjunto de teorias, as quais terão tendência a serem mais ou menos sacralizadas, conforme o "poder" do prestígio académico inerente aos Professores de Cátedra que as defendam.
Dessa forma, as teorias do conhecimento, no seio da universidade, transforma-se em pequenos feudos, em fontes de poder, redundando por essa via num estorvo ao aparecimento do conhecimento novo, isto é de novas teorias, já que estas podem pôr em causa o "magister dixit" dos professores catedráticos, mesmo que esse "magister dixit" não seja frontalmente invocado.

Ou seja, na medida em que as teorias do conhecimento, no meio universitário, se tornam inerentes às relações de "poder académico" que se formam no seu seio, então os senhores feudais (digo, os Professores Catedráticos) que dominam com todo o à vontade as teorias consagradas, revelam uma enorme dificuldade em se abrirem ao novo paradigma, ao novo conhecimento, por mais bem fundamentadas que estejam as "novas teorias", e aí está criado o clima para o "choque paradigmático"!

E porque será que esse choque paradigmático não se verifica no seio do laboratório do conhecimento, que é a empresa com boa capacidade de gestão e estratégica?
Talvez a razão fundamental resida no facto de que no seio da empresa, as relações de poder estão bem definidas, e o "staff de investigadores técnicos" é assim incentivado a produzir novo conhecimento intangível, todos os dias, ou seja há um clima que tende a reforçar a produção de conhecimento novo no quotidiano da empresa.

Já no seio da Universidade, as relações de poder no seu seio, tendem a ser tingidas pelo próprio poder do conhecimento, nomeadamente ao nível dos Professores de carreira (os ditos professores catedráticos). Aliás os Professores catedráticos, tendem por isso mesmo a serem olhados como os "donos de uma cátedra", de uma disciplina do conhecimento, ou seja das teorias científicas que informam essa disciplina.

Por isso podemos concluir, que quanto maior for o poder "académico" propiciado pelo conhecimento "científico" aos seus respectivos professores, maior será a tendência para o reforço do "poder feudal" desses professores no seio dessas universidades (tendência à formação das tais "capelinhas"), e maior será a tendência para se verificar o "choque paradigmático", isto é maior será a resistência ao novo conhecimento, propiciado pelo novo paradigma, portador de novas teorias do conhecimento, o qual pode pôr em causa de facto, as teorias que incorporavam o saber de determinada cátedra, ou disciplina ...

A solução para remover o clima universitário que tende a criar condições para o choque paradigmático, passará porventura pelo incentivo e valorização permanentes ao novo conhecimento. por forma a que as universidades se tornem também elas, tal como as empresas com boa capacidade de gestão e estratégica, se transformem em laboratórios quotidianos do conhecimento, e, a partir desse enquadramento, dificilmente as teorias cristalizarão, e consequentemente, as cátedras, serão elas próprias fontes laboratoriais de novas experimentações / comprovações do conhecimento, criando dessa forma condições para o desabrochar de novos paradigmas com toda a naturalidade!

Talvez uma solução positiva possa consistir em mudar radicalmente a carreira universitária: em vez de "professores catedráticos", teríamos apenas "professores investigadores", os quais avançariam na carreira académica, conforma a apresentação periódica de trabalhos de investigação, na área da disciplina que leccionam!

Uma outra solução, complementar à anterior,  poderia consistir na maior aproximação das Universidades às Empresas e ao intercâmbio permanente dos seus conhecimentos e investigações.

Sem comentários:

Enviar um comentário